2. Um mundo (in)visível
Atualizado: 23 de out. de 2020
O texto escolhido para análise foi o "The World is not a Desktop", de Marc Weiser.
Weiser defende a ideia de que uma boa ferramenta, um bom objeto de design, é aquele invisível. O que quer dizer com isso é que todo o foco deve estar no mundo e no efeito de se usar essa ferramenta, e não na ferramenta em si. Logo, essa deve se passar despercebida e usada de modo mais inconsciente possível. Mas até onde a sua teoria segue pertinente?
Entendendo sua perspectiva
Para desenvolver sua teoria, Weiser utiliza a questão dos computadores (de modo geral, uma máquina inteligente) do futuro. Ao longo do texto, ele nos faz questionar se o computador que conhecemos hoje deveria atrair tanta atenção quanto atrai e chamar tanta atenção para si, quando na verdade o que realmente importa é o seu desempenho, o produto de seu uso.
Diferente do mundo fictício, em que o essencial é prender a atenção do consumidor, seja ele ativo ou passivo, no mundo real, segundo ele, o importante é realizar uma performance de modo mais inconsciente possível, visando melhorar a produtividade, diminuir a carga de trabalho e aumentar o foco no resultado. Por fim, o designer procura dar uma nova abordagem aos computadores de hoje, dando esse caráter invisível que tanto explora em seu modo de ver o mundo.
O "ser chamativo", problema ou não?
O fato irrefutável é que vivemos em um mundo de aparências. As primeiras impressões sempre estarão ligadas à aparência e as propriedades físicas do produto. Em outras palavras, à parte que está visível.
Claro, não devemos considerar que por algo ser chamativo, estamos falando exclusivamente sobre a sua estética. Ainda assim, essa é muito importante. Não só compramos um produto por ele ser "bonito ou não" para nos encaixarmos nesse mundo de aparências que comentei anteriormente, e isto, seja uma atitude fútil ou não, é a realidade; mas também porque é aquilo que nos diferencia como perfis diferentes. Se eu posso customizar um produto do jeito que quero, dando a ele a minha identidade, impondo os nossos gostos naquilo que pertence a nós, é isso que nos torna humanos. É isso que diferencia, pegando o exemplo de Weiser, "um" computador para o "meu" computador.
Outro fator que pode ser confundido com o "ser chamativo ou não" está relacionado com a escala do produto. Pegando o exemplo dos smartphones. Se compararmos um modelo atual com um de 10 anos atrás, notaremos uma grande diferença de tamanho. Com os anos, os smartphones foram aumentando de tamanho, e muitas das explicações, pelo menos das que vejo, foram exclusivamente por uma questão de atratividade. Apesar de não negar que provavelmente essa seja sim uma das razões para esse aumento de tamanho, acredito que também estejam envolvidas questões de acessibilidade e ergonomia. Com telas maiores, atende há um número maior de público, sejam idosos ou quem não enxerga bem de perto sem a assistência dos óculos; atende, também, um número maior de funções; é mais acessível aos vídeos, considerando o aumento descomunal que as plataformas de vídeo tomaram desde a popularização do YouTube; é, também, mais fácil de segurar e de não perder em algum lugar; e assim vai. Claro, há também um lado negativo, como o famoso "não cabe no bolso", falado por muitos.
Visível x Invisível
Não acho que podemos priorizar um em detrimento do outro. O "ser chamativo" é que nos faz comunicar com o mundo, passar os nossos gostos, nossas ideias. De modo informal, eu diria que é até um modo chato de ver o mundo, se nada é chamativo o suficiente, apenas a funcionalidade é importante. Até porque, como já falado aqui, sua funcionalidade está, também, um pouco ligada à aparência. Tornar um produto acessível, funcional, ergonômico e intuitivo, mas também agradável visualmente falando, ao meu ver, deve ser o sonho de todo designer.
WEISER, Marc. The world is not a desktop. https://www.nextnature.net/story/2006/the-world-is-not-a-desktop
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